Basicamente a crise se estabelece devido à existência de um
conflito. Ela é um processo resultante da contraposição e contradição de
vontades (dialética) decorrente de um confronto de interesses e constitui uma
forma de busca de solução ou compromisso satisfatório para ambas as partes. Ela
pode se desdobrar até o limite em que a força é empregada na consecução do
objetivo almejado, a guerra. A Crise e a Guerra são fenômenos de mesma
natureza, como entendido por Clausewitz, e diferem apenas na forma pela qual se
emprega a força.
O conflito entre Estados em torno de objetivos políticos ou
político-estratégicos definidos, na conquista ou preservação dos quais as
partes querem impor sua vontade desencadeiam o processo da crise. Ao nível
estratégico ele é conduzido pelo mais alto escalão do Poder Político que, em
função do objeto em disputa, define a legitimidade e os limites toleráveis para
emprego de força. Neste contexto o risco de guerra e o valor que o povo atribui
ao objeto em disputa sensibilizam a opinião pública e criam uma complexa
relação entre governo, povo e forças armadas. O processo de crise pode ser
estudado dividindo-o em quatro fases, conhecidas como “Fases da Crise” são
elas: a do desafio, da reação, do desenvolvimento e a do resultado. A
diplomacia, as informações e as decisões políticas se sucedem transformando se
em ações, planejadas e executadas, inicialmente, pelo nível estratégico
chegando ao nível tático-operacional até o limite em que a violência declarada
é inevitável. A graduação da força é empregada, nas diversas fases da crise,
para compelir o oponente a aceitar a vontade de quem a usa, mas não é usada
para destruí-lo. Podemos entender que a Crise é a fronteira, o limiar, existente
entre a paz e a guerra.
Durante as fases da crise são tomadas decisões que procuram
alterar a percepção do adversário, levando-o a concluir que os custos
necessários a consecução de seus objetivos são demasiadamente grandes diante
dos ganhos pretendidos. O processo decisório é dinâmico durante a crise e
depende de informações constantes, pois as decisões envolvidas implicam no
risco da deflagração de uma guerra. Os decisores, continuamente, manipulam o
risco de guerra e decidem sob tensão e têm suas decisões comprometidas pelas
condições psicológicas e pela interpretação dada, a cada instante, a um
cenário, em que nem sempre é a mesma para todas as partes envolvidas.
O Jogo de Guerra de Crise
deve explorar o aspecto da decisão e seus possíveis desdobramentos. Os partidos
devem ser incentivados a decidir, sendo o gol principal do jogo, não ocorrer o
desdobramento de uma guerra. A solução conciliatória mais favorável deve ser
buscada por cada time. O estudo de situações como a dos mísseis de Cuba na década
de 1960, a
crise das Malvinas/Falklands anterior à guerra de 1982, os acordos de redução
de ogivas nucleares e outros são terreno fértil para o desenvolvimento e estudo
de Gabinetes de Crise.
Dentro
deste contexto a EGN, em 2007, desenvolveu um Jogo de Crise para apoiar à
disciplina “Manobra de Crise” ministrada em seu Curso de Política e
Estratégia Marítimas (CPEM). O jogo tem como pano de fundo o conflito de
interesses estabelecido entre dois países fictícios, SODALITA e MARROM, em
torno da exploração de uma bacia petrolífera na ZEE das ilhas MALVADAS, que
eram reivindicadas historicamente pelos dois países. São participantes do jogo CORINDOM,
um país fronteiriço à SODALITA, que tinha interesses econômicos na situação, a
PETROGÁS, sua empresa petrolífera, que é contratada da EPPS, estatal de petróleo
de SODALITA, para a exploração do campo em questão e do MERISUL que é o grupo
econômico composto pelos países do continente em que se localizam SODALITA e
CORINDOM.
Os
partidos são mobiliados com poderio político/situacional e militar condizente
com os objetivos do jogo sendo incentivados a decidirem como empregar suas
forças na proteção e manutenção de suas soberanias e interesses na situação. São
apresentados três desafios com informações e fatos político-estratégico-operacionais
e o objetivo principal do jogo é que os oficiais-alunos experimentem o ambiente
existente em um Gabinete
de Crise, suas pressões, decisões e possam discutir as conseqüências políticas
e estratégicas e seus desdobramentos, sempre tendo em mente o processo de crise
e as manobras a ele associadas.
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